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outubro 24, 2011

As gueixas

O valor da fotografia é maior do que suas características técnicas ou estéticas. Ela se potencializa na simbiose com a memória, afeto, existência, transfiguração do acaso em oportunidade, materialização do tempo e desmaterialização do mundo. Os surrealistas adoravam fotografias por serem banais, fantasmagóricas, pessoais, negativas x positivas, miméticas; por seu caráter de fragmento. Do surrealismo vieram Cartier Bresson e Man Ray. Os dois descobriram no acaso, a mola propulsora da fotografia e ela nos liberou para admirar o acaso, desligado da superstição. Há tambem essa angústia terrível de assistir a multiplicação de imagens, vagando por aí, precisando de algum olhar.. A imagem é a fonte da juventude, o fruto da busca  pela vida eterna. Fantasma, a imagem assiste o mundo envelhecer. Imagem apareceu para substituir, Zombie sugando da vitalidade que duplicou. Simulacro de nossa identidade. A fotografia é a pedra fundamental, principio desse mundo em que vivemos: telas, mensagem, comunicaçao, informação. Reprodução de fantasmas. A imagem inalterada sublinha o horror do envelhecimento e da deterioração. O retrato de Dorian Grey.
Em 2010, encontrei 4 slides estragados.. restos de uma sessão de fotos vagando em gavetas úmidas. 4 imagens vencidas pelo tempo. Quando encontramos um trabalho estragado, sentimos raiva, nos sentimos envelhecidos e derrotados mas eu estava exultante. Eu havia feito uma mudança radical, largado uma casa que era errada para mim, empacotado minhas coisas em um guarda moveis. Morei em casa de mãe, viajei, vaguei um tempo também até encontrar um novo lugar. Mudanças não saem barato.. custam perdas e danos mas quando encontrei os 4 slides estragados no fundo de uma gaveta, senti que havia descoberto um tesouro. As gueixas tatuadas pela umidade eram filhas de Man Ray. Um acaso surrealista. Ampliei, emoldurei e entreguei para a galeria de arte.