Archive for ‘Uncategorized’

abril 9, 2017

Comprando e pensando

Vinha fotografando muito com o celular. A câmera está sempre à mão e, como sou tímido, fico sem graça quando aponto para alguém que não pediu para ser fotografado. O celular disfarça as minhas intenções. Viajando pelo México recentemente, fotografei muito com o MotoG e fiquei inseguro com a pouca resolução das imagens. Daí, de estalo, resolvi comprar uma câmera pequenininha que mantivesse a discrição do celular e tivesse mais qualidade.

 

Sou um fotógrafo de poucas câmeras; quanto menos cuido da câmera, mais eu penso no que está à frente dela. A fotografia é mensagem, ideia… uma escrita. A marca da caneta pouco importa…, mas agora minha caneta podia falhar ou era apenas uma intuição de que essa compra era necessária à fotografia.  A não ser em momentos raros, sempre comprei câmeras fora do Brasil, e o motivo é simples: praticamente inexiste o comércio de aparelhos fotográficos por aqui. A razão, quando comecei a fotografar, muito jovem, era a ausência de mercado e o pouco dinheiro do povo para luxos como câmeras fotográficas. E havia os impostos. Hoje o mercado no Brasil é imenso… e, no entanto, ainda não encontro lojas grandes de fotografia com vitrines repletas de modelos. Lembro a primeira vez que vi uma dessas em NY, e fiquei emocionado; emoção de estar diante de uma vitrine que conhecia apenas de ouvir falar.  O Brasil é um país gigantesco com uma classe média afluente, a fotografia é popular, disseminada, consumida e continuo comprando câmeras fora daqui. Por quê?

Então, estava eu no México, sábado à noite: decidi procurar uma câmera. Entramos em um shopping para comer um doce e pedi para dar uma olhada em alguma loja, sem tomar muito tempo da família.  O shopping era gigantesco e, além de boutiques como Prada, Mac Stores etc… havia as grandes lojas de departamentos: Liverpool e Palacio de Hierro. Dois gigantes do consumo sofisticado. Fui parar no Palacio de Ferro. Dentro da loja, passei por andares repletos de marcas até chegar às cameras fotograficas. Nas vitrines, sempre as vitrines, várias câmeras para consumidor avançado (não profissionais) da Canon e da Nikon. Pedi ao vendedor qualquer uma que fosse barata e pequenina. Ele mostrou uma Canon sem muito entusiasmo. Logo disse: isso é ultrapassado: celulares são melhores… E não me empurrou o que eu não precisava.

 

Em segundos, apareceu um senhor sorridente (feio e extremamente simpático) com algo que, na aparência, vinha direto dos anos sessenta: uma câmera prateada, de linhas curvas e inclinadas: pequenininha, carismática. Fiquei fascinado mas o trabalho do vendedor estava apenas começando. Por mais que eu quisesse comprar de uma vez, ele iria demonstrar com propriedade o funcionamento daquela câmera. O sujeito conhecia todos os detalhes e  possibilidades do aparelho: desde o funcionamento até as qualidades do sensor. Foram dez minutos de demonstração. Poucas vezes vi alguém manejar uma câmera com tanto conhecimento de causa. Câmeras digitais são excessivamente complicadas e geralmente dominamos apenas uma parte das funções. Estou acostumado a trabalhar com assistentes de câmera, eles conhecem equipamento mas o vendedor conseguia a minha admiração pelo  conhecimento daquele aparelho e aumentava o meu desejo de comprar. O preço foi fornecido logo também… e havia um desconto enorme. A câmera custaria 400 dólares quando o seu preço era de quase mil. Havia outra bem mais cara, e fui desestimulado a investir qualquer atenção. Ele não tentava me vender algo que eu não poderia comprar. Eu já estava pronto para fechar o negócio mas o vendedor continuava demonstrando tudo que a câmera podia fazer. Estava sem cartão e pedi emprestado a quem me acompanhava prometendo pagar quando chegasse ao hotel, tamanha era a vontade de ter a câmera. Fechado o negócio, saí da loja flutuando num barato que há muito não experimentava. Havia comprado algo perfeito.  Descobri um tesouro. Logo tive a epifania: esse povo aqui sabe vender, transformam a experiência comercial em arte.

 

Os mexicanos construíram impérios onde o comércio foi valorizadíssimo. A cultura criada por eles, da arte escultórica, arquitetônica aos códices escritos, foi movida pelo comércio. No Brasil eu jamais havia experimentado essa plenitude ao comprar qualquer coisa, e sempre olhamos para Europa ou os Estados Unidos ao estabelecer nosso critério de qualidade de consumo (ou qualquer outro critério). No entanto eu estava em um país mais pobre do que o Brasil, em um shopping onde tudo do bom e do melhor era muito mais barato do que no Brasil. Vendedores que sabem vender conhecem profundamente aquilo que vendem e elevam a experiência do consumo a um grau altíssimo de satisfação. Daí, eu entendi como o comércio poderia mover as coisas no Brasil. Ao comprar essa câmera eu me aproximei mais da fotografia. Ao comprar um computador você se aproxima mais da escrita, da comunicação. Ao comprar uma roupa você se aproxima da elegância. Ao preparar os vendedores, fabricantes e importadores, o comércio educa. Ao proporcionar segurança para o consumo, as cidades se tornam seguras. Entendi ali que a fragilidade civilizatória do Brasil passava também pelo desprezo ao comércio. Não enxergamos algo muito simples: a potência civilizatória do comércio.

 

Os projetos brasileiros de sociedade, defendidos aos berros nas redes sociais, não incluem o aprimoramento comercial. As ideias de transformação, muito ambiciosas e agressivas, nunca se dedicam a promover o comércio enquanto motor de educação, liberdade, segurança e tolerância.  Não fosse a revolução comercial na Europa, não haveria o Renascimento, nem a tolerância religiosa e nem a liberdade de pensamento.

 

Vocês já se perguntaram de onde vêm a tolerância as diversidades associada a New York? E a  vocaçao para a ciculaçao de cultura? A cidade se chamava Nova Amsterdam, pertencia aos holandeses; povo que comerciou e financiou e que sempre foi tolerante para poder assim comerciar melhor. No Brasil, poderíamos diminuir a gritaria em torno da tolerância e encará-la não apenas como metafísica do Bem, mas também como ferramenta necessária ao comércio e à riqueza. Se assumíssemos a tarefa de aprimorar a nossa tradição comercial, teríamos uma sociedade mais tolerante e educada sem que houvesse necessidade de policiamento de hábitos nas redes sociais. Alguém já se perguntou como os gays ganharam espaço e tolerância na sociedade americana, a primeira a reconhecer os direitos das diversas identidades sexuais?  Pesquisas nos anos 80 indicaram que os gays formavam um segmento que consumia mais do que casais heterossexuais: de roupas a arquitetura, turismo etc… O comércio foi a ponta de lança da aceitação e da tolerância, porque o consumidor deve ser respeitado. Se, no Brasil, o Estado respeitar mais o comércio, diminuindo as taxas, facilitando as importações e, se o comércio, por sua vez, respeitar o consumidor como fundamento de sua atividade, teremos um país melhor, sem necessidade de tanta brigalhada política ou de salvadores da pátria, liberdade e  igualdade. Por natureza, o comércio abraça a liberdade, a tolerância e a riqueza para todos.

Bom… é isso.

agosto 6, 2016

Wellcome to Brazil

Sempre que assisto a um espetáculo oficial aonde o Brasil é narrado e explicado, meu estômago revira e minha psique decai; efeito oposto ao pretendido pela direção que seria   mostrar  a vibração e o milagre da convivência. O espetáculo de abertura das Olimpíadas provocou de novo a sensação de exílio em meu próprio pais,  solidão na própria casa.

O país do futuro? Sim. Um país que suporta apenas o futuro e  joga fora o presente e o passado, cada vez mais sem identidade e cultura.. reduzida agora apenas a bossa nova, aos famosos do momento e da História brasileira, cada vez mais curta. Uma nação de celulares, fibras óticas e uma lata de lixo aonde se joga fora tudo que não aparece na TV porque se não é famoso, não tem valor. Um país de centenas de milhões de pessoas onde apenas meia dúzia de notáveis podem ser lembrados. Desculpem, mas não aguento mais ouvir falar de Niemeyer! Existem outros arquitetos aqui. Existem outros cenógrafos, coreógrafos, fotógrafos, artistas plásticos, modelos  e atrizes.  Ou a memória é tão curta que só consegue guardar o nome da Fernanda Montenegro? O momento belo dessa festa foi o desfile da mulher ao encontro do cantor. No entanto, a garota de Ipanema nunca foi uma, apenas uma, modelo internacional. A Garota é mítica porque é todas,  muitas, centenas, milhares, milhões de mulheres lindas  cruzando o espaço a caminho do mar.

E o povo.. ahhh.. o povo.. Vem cá, não existe povo. Existem pessoas, fatos e seus detalhes que são pedaços de estórias contadas, e essas estórias são a riqueza de uma nação. Um país não é o que se olha da janela de um carro, de um avião, do drone… é o que se conta dele, é feito de palavra,  memória e pensamento. A cultura brasileira não foi inventada nos anos 60 em Ipanema ou na semana de 22, em São Paulo.  Sim… somos historicamente provincianos e sendo um pais tão grande,  devemos cultura ao mundo mas, como se viu no espetáculo olímpico,  é pouca a cultura brasileira e conformada com a pobreza, porém, houve o Império e negros intelectualizados aconselhavam a corte em plena escravidão, em um Rio de Janeiro fervilhando musicalmente no século 19. Não havia apenas Machado de Assis e o Imperador conversava com os maiores intelectuais europeus, cultivava a filosofia e a fotografia. Antes dele, D. João sexto   chegou a cidade e acreditem, a corte portuguesa era muito mais do que o  rei glutão e a rainha louca. Os brasileiros têm obrigação de saber quem são, de onde vêm  quando insistem em simplificar, apagar, reduzir sua formação a uma comédia de meia dúzia de erros, a uma eterna luta entre complexo de viralatas e a pretensão de filhos pródigos de Deus, eternas crianças com meia dúzia de tios famosos. Não é a toa que a gente atura o Galvão Bueno há séculos com o bordão do “é muita emoção”.. faltam razão e consciência.

Na América Hispânica, ignorada pelos brasileiros, a consciência de formação é clara: o passado cortando o presente como navalha suja de sangue, templos de culto panteísta emergindo no asfalto rachado por terremotos,  dialetos indígenas vagando tristemente ao largo das rodoviárias, tristezas irreconciliáveis e luto insuperável. A consciência não é plena sem tristeza e dor. A alegria sem consciência é tola. As nações devem consciência a humanidade.

Ok, era apenas um espetáculo de boas vindas aos estrangeiros…  o “dá licença que nós queremos vender o peixe” no mercado internacional. Mas quem é que está vendendo o que? Quem são os escolhidos dessa missão comercial? … Aonde está a densidade espiritual minha, sua,  das pessoas passando embaixo da minha janela?  Eu não faço parte de  uma narrativa cada vez mais simplória, tecnológica onde a moral é uma leitura burra da luta de classes; capa e orelha de livro cujo conteúdo é o alpinismo social selvagem , iletrado, inconsequente e obscurantista. O Brasil é cada vez mais uma nação de fanatismo religioso e choradeira diante da TV, cantando vivas ao futuro e a tolerância.. tolerância a própria preguiça. Eu e você somos mais do que isso e muito menos do que merecemos porque nos recusamos a entender quem somos, de onde viemos e no que acreditamos. A elite intelectual que nos representa, e eu faço parte dela, se conforma em sobreviver confortavelmente sem correr o risco da incompreensão, adotando como linguagem uma sopa de letrinhas, repetindo bordões cada vez mais simplistas e suspeitos. O esforço de compreender a complexidade é o ponto de partida e chegada da cultura,  da narrativa. A complexidade se mantém intacta em cada fábula infantil. Boas intenções não garantem que gato não seja vendido por lebre.

Foi apenas um espetáculo  e irrepreensível tecnicamente.. mas não venham me convencer que é o resumo da nação.

 

Flavio Colker. Agosto de 2016

fevereiro 28, 2016

Escritor não pede desculpas

Escritor não pede desculpas por seu texto. Artista não pede desculpas por suas telas. Humorista não pede desculpa por piada. Cientista não pede desculpa por descobrir a velocidade da luz. Pensadores não pedem desculpas a turba de linchamento e a seus Cappos, sargentos, carcereiros.
Quem pede desculpas por ter pensado não deveria pensar alto.
Quando se trata do trabalho intelectual, da coragem de chegar as próprias conclusões, não existem diferenças entre homens e mulheres; entre cristãos, judeus ou muçulmanos; entre progressistas ou conservadores. Quando se trata de pensar em voz alta, existem pensadores e criadores.. apenas seres humanos. Para ser humano … tem que aguentar o tranco.

Ninguem tem mais razão  por ser mulher, por ser homem, por ser negro, por ser homossexual, por ser judeu ou palestino, trabalhador ou patrão, senhor ou escravo…  Tem razão quem pensa o melhor para todos e para cada um de todos nós; isso significa que há mais de uma boa razão. Significa que há razões conflitantes. A grande conquista da cultura é a liberdade para que todas as razões se expressem em sua riqueza e complexidade. Quem exige suprimir  o relato de experiência vivida em nome do coletivo, não sabe o que fala e perdeu o rumo, a conexão com a tradição filosófica do Ocidente. Ignorar a realidade é … ignorância.

Cada vida e cada experiência vivida tem o mesmo valor de qualquer outra e merece ser narrada do ponto de vista de quem a viveu. Para isso existem as palavras.. para que o ser humano desafie o senso comum e afirme sua individualidade. Para que seja livre e não precise ceder sob pressão.

Abaixo a Ditadura do Pensamento Politicamente Correto. E vivam os homens livres.

 

Rio de Janeiro, 28 de Fevereiro de 2016

janeiro 11, 2016

Oito odiados… obra prima.

A vingança é sempre o tema dele.. e o filme  é a sua vingança; e a nossa tambem.

Vingança contra a existência porque ela abomina e tortura a consciencia com brutalidade,  injustiça, doença,  guerras,  massacres de inocentes.  Existencia que se compraz em desfazer de todo sentido. Vingança possível do ser humano.. que  é rir as gargalhadas da existencia.

Tarantino não é apenas um diretor de cinema;  é um artista gigantesco. Artista tão grandioso que só pode aparecer como um clown, uma figura exagerada e patética. Um genio.

Thank You Mr. Tarantino.

 

NOTA: melhor filme do QT!

janeiro 6, 2016

A arte do retrato fotográfico

Curso de fotografia: A arte do Retrato Fotográfico.

Um aprendizado baseado na admiração dos mestres do genero.  Técnica, estética e arte na fotografia. Ser contagiado pela alegria de olhar para a obra dos grandes fotógrafos. Aprender com esse enamoramento pelas imagens. Uma especie de rock n roll imagético.

 
A ARTE DO RETRATO

Curso de 5 aulas. 3 horas cada aula.

O curso é um mergulho na experiência de fotografar retratos, tz o gênero mais popular, mais intenso da fotografia. Para compreender a sessão de retrato como um jogo, uma fonte de alegria: o bom fotógrafo provoca alegria, tanto nele como em seu modelo e tambem no publico que depois olha suas imagens. Alegria e admiração andam juntas. A admiração surge quando se reconhece os traços do passado no trabalho do presente. Aprender a fotografar se faz olhando  fotografias e admirando os fotógrafos. Compreendendo sua técnica, seu ambiente de trabalho, sua motivação, sua lógica e depois a alegria e admiração aparecem no nosso trabalho. Criar imagem é trabalho de amor e admiração.

Sugiro ao aluno que desenvolva seu próprio método. A técnica é  a facilidade para chegar na sua visão. Cada fotógrafo necessita dominar a técnica necessária apenas para a imagem que ele persegue.

Cada aula examina a obra de alguns mestres. O trabalho dos alunos é sempre benvindo e através de cada dificuldade aprendemos a técnica. A melhor maneira de se tornar fotógrafo é desenvolver o gosto pela fotografia.

Aula 1- O retrato realista na luz natural.

Composição, direção do modelo, precisão.

Reflexões sobre a obra do fotografo alemão dos anos 30, August Sander. Seus retratos compõem um painel da Alemanha entre guerras e são referencia importante entre os minimalistas, na cultura europeia, no ambiente de arte.

Aula 2- Iluminação, glamour e minimalismo.

Compreensão da luz artificial e composição.

Os retratos de Richard Avedon e Irving Penn. Talvez os maiores fotógrafos no campo de moda, retrato e arte. Depois de se consagrar como um mestre do glamour, Avedon desenvolveu uma obra minimalista, ultra realista/ psicológica para expressar a fragilidade do individuo, utilizando de recursos mínimos de estúdio.

Penn é o oposto de Avedon. Clássico, elegante.. a composição sempre, acima de qualquer outra preocupação. Um gênio, criou obras primas do mais alto nível para Vogue. Ele tem um trabalho belíssimo, antropológico, todo baseado na ilustração do século 19 , com etnias não assimiladas a cultura ocidental ao redor do planeta.

Esses dois fotógrafos são o supra sumo da técnica de luz e composição no retrato.

Aula 3- A reinvenção na sessão de retrato.

Annie Leibowitz e as fotos de celebridades que fascinaram a cultura pop nos anos 70, 80, 90.. nas revistas Rolling Stone e Harpers Bazzaar. O trabalho de Annie tem uma atitude muito peculiar e de certa forma faz uma crônica da sociedade americana no tom oposto de Sander, que estudamos na primeira aula. É um trabalho de excesso, mistura, hibrido. As vezes de mau gosto porem talentoso sempre.

Em termos técnicos, ela mistura luz artificial e natural, transforma os ambientes realistas, cotidianos em cenários teatrais. É um bric a brac entre comercial, artístico, usando influências de tudo quanto é lado.

Aula 4- Erotismo e sensualidade no eixo da identidade.

O ser humano é  erotizado e atraente. Helmut Newton, Bruce Weber e Mapplethorpe olham qualquer individuo com erotismo e atração. No Brasil, Alair Gomes fez o mesmo. Fotografia sempre será ligada ao erotismo.. produz erotismo.

Até a luz é erótica no trabalho de Newton e Weber. Tecnicamente, estudamos como iluminar o corpo humano, seja no sol ou com luz artificial.

Aula 5- O auto retrato.

Para completar uma viagem pela fotografia de retratos é fundamental falar do auto retrato. Desde a pintura.. de Durer, Velasquez a Van Gogh.. o auto retrato é uma confissão ou encenaçao e pode ser uma troca de identidade como no trabalho de Cindy Sherman. Seu Untitled film stills faz uma coletânea de atitudes e clichês femininos tirados de todas as narrativas, cinematográficas ou fashionistas, aonde a mulher se esconde no cotidiano.

A técnica de autorretrato é parecida ao trabalho de equilibrista porque o artista é fotógrafo e modelo ao mesmo tempo. Toda a técnica acumulada nas outras aulas é revisitada então.

Professor/ Flavio Colker_  Fotógrafo de capas de disco, revistas, teatro, dança, moda e publicidade com cinco retratos na coleção de fotografia do MAM SP.

Professor de fotografia publicitária no Depto de Comunicação da PUC RJ

Professor na EAV RJ.

janeiro 1, 2016

A primeira hora.

janeiro 1, 2016

Feliz Ano Novo

que o seu ano seja verdadeiro….

dezembro 31, 2015

Lua vermelha #8

_ O que mais queres da tua vida?

_ Olhar a lua no céu e ouvir o ruido do mar.

_ Então defende a lua  e defende o mar .

dezembro 31, 2015

just killing my time.

dezembro 30, 2015

30/12/2015

paisagempaodeacuca30dedezembrode2015Depois da chuva

dezembro 30, 2015

Os números de 2015

Os duendes de estatísticas do WordPress.com prepararam um relatório para o ano de 2015 deste blog.

Aqui está um resumo:

A sala de concertos em Sydney, Opera House tem lugar para 2.700 pessoas. Este blog foi visto por cerca de 13.000 vezes em 2015. Se fosse um show na Opera House, levaria cerca de 5 shows lotados para que muitas pessoas pudessem vê-lo.

Clique aqui para ver o relatório completo

dezembro 25, 2015

Agente secreto de si mesmo.

Qualquer um pressente que o mar não está pra peixe. É o momento histórico. As formas de comunicação, cultura e vida que nos cercavam  foram destruídas. Cinema, jornal, livro, tv, telefone.. foram miniaturizados. A forma de conhecer e de ser conhecido, de encontrar amor e amizade. As formas  estão sendo todas tragadas para uma tela cada vez menor. Não é  um mundo novo. É apenas uma cópia do antigo como um swatch é cópia digital de um relogio mecanico.  Estamos nos copiando e miniaturizando tambem. Basta observar as mensagens de texto. São miniaturas de frases. E temos a miniatura do pensamento, da politica, da educação.

Virtual é imagem, cópia, falso. É uma Era da Destruição como foram outras eras no passado. Agora é destruição da matéria.  Substituição da natureza, da liberdade , da educação por miniaturas.  E o trágico é que  ainda não apareceu nenhum vislumbre de outro mundo que vai ocupar esse que está sendo copiado antes de ser destruído definitivamente. É a era do Terror. Não há certeza: a dinâmica é do photoshop e manipulação. A História determina que nesse momento, existir é passar para o lado da não existência; para a virtualidade. Tem algo ilógico nessa afirmativa como um paradoxo de Alice no Pais das Maravilhas. Paradoxo é falha, glitch, bug  que interrompe e desmonta a narrativa, a Matrix. Dentro do mundo virtual  ficamos a maneira de Alice atrás do espelho: assistindo o mundo desaparecer. Desolação e medo.

Há algo mais desaparecendo nesse momento: a identidade. Cada um recebe um nome do pai pela graça da mãe e a identidade é construída sobre esse nome. É tarefa difícil, muitas vezes dolorosa e em alguns momentos de dúvida, queremos abandonar o barco. O nome pode ser prisão opressiva quando o sentido de viver cada dia é perdido. Qual Hamlet que não pode assumir quem é e assumir o dever de proteger o nome do pai. Ou o repórter no filme de Antonioni que foge, abandonando a identidade no quarto de Hotel. Triste é o homem ou a mulher que renega o nome do pai. Triste é o pai a quem o filho renega o nome e a herança real que recebe, a ser polida e enriquecida por toda a vida. Somos o mesmo na escola, no futebol, em cada namoro, no serviço militar, no trabalho, na paternidade e maternidade. É obrigação ser fiel ao nome.

Poucos, pouquíssimos podem ter mais de uma identidade… só aqueles que agem entre o mundo e o submundo como agentes secretos, policiais, informantes. De certa forma são párias sociais, carregando a culpa de mentir, roubar e enganar usando outro nome.  Ser ou não ser agora nesse momento pode ser ligado e desligado nas redes de internet aonde se escolhe alguma identidade ligada ao endereço de email. Eu quero viver fora da Historia e principalmente fora da interpretação da Historia que relativiza o ser humano como “fruto de momento histórico”. Peço desculpas ao leitor por não escrever com mais clareza.. como talvez diria Machado de Assis. Sou limitado. Procuro clareza e não encontro com facilidade portanto voltarei aos primórdios

As narrativas primordiais dão imensa importância ao nome. Ao nome das coisas e ao nome de cada um de nós. Percebi ao longo do tempo que admiro textos guiados por uma noção de Eterno. Gosto de textos aonde símbolos se manifestam. Textos que são como uma infusão misteriosa de símbolos e eternidade. Textos que alimentam o pensamento como a infusão alimenta o corpo. Misteriosamente. Infusões literárias amadurecidas em toneis do inconsciente coletivo, como diria o Jung, em arcas sagradas de onde saem as estórias primordiais.

Os primórdios são do meu interesse. Os primórdios que agora são uma narrativa fantástica mas que podem ter sido vida tambem. Ou será que a narrativa é anterior e principia a vida? No começo era o verbo. O homem(e o mundo) existindo porque uma boca narra a sua existência, talvez na fração infinitesimal  do tempo divino. Ser ou não ser.

Quando a palavra  é sequestrada do legitimo narrador, se transforma em um virus destruidor dos seres e coisas que um dia foram designados com amor.

Houve um tempo, próximo do nosso, quando o mito era vivo e respirava entre os homens. O tempo do cordeiro, do pastor, da luta entre Deus e falsos deuses pela obediência dos homens. Árvores, cavernas, desertos e leões conviviam com dragões,o unicórnio, o centauro, o minotauro. A História chama esse tempo de antiguidade. Antigo, velho, impotente, idoso… Um filósofo e um psicanalista enxergaram que não se deve encarcerar o mito no passado porque a perda da unidade entre mito e vida gera um homem que acende a luz elétrica com medo de fantasmas. O pensamento, sem a clareza do mito, não enfrenta as trevas.

Eu não quero viver dentro da História. A História é puro conhecimento e euu quero a sabedoria atemporal. A sabedoria aparece no corpo, nas vísceras, antes de vir a tona na consciência, individualizada e particularizada. O conhecimento é da ordem geral, do livro, da escola, para a consciência, o corpo ausente. A sabedoria é da esfera da humildade. O conhecimento é da esfera social, geral, indiferente ao corpo e produz vaidade. O paradoxo do conhecimento é ser impessoal e ao mesmo tempo vaidoso. Sério e fútil.. A Historia é uma coleção de narrativas sobre ambição que terminam em erros e matanças. Ambições que a custa de muita infelicidade, morte e injustiça, criam apenas mais Historia para descrever como o homem só existe enquanto grupo… Cada um sabe, no intimo, que isso não pode ser verdade. Cada um sabe que é único e que existe quando dialoga consigo mesmo …ou com algo que é difícil para mim enxergar. Cada um sente que a chama da vida queima e ilumina para torná-lo único, que nasce só e morre só e nessa hora sua verdade aparece .. O mito e único. O Minotauro é único. Aquilo que é mais um, indiferente e substituível é miragem; equivoco. Jesus é único.

Há em curso uma trapaça sobre a angústia fundamental de responder ao próprio nome. Eu sou aquele que foi criado e existo para responder pelo nome que recebi e no entanto me oferecem a possibilidade de criar outra identidade, recriando a minha com imagens e fragmentos de vida que tanto podem ser vividos por mim ou não. Posso me tornar o agente secreto de mim mesmo, enganando o passado, presente e futuro com pseudônimos. Estabelecer uma vida virtual. Atacar sem valentia, mentir, namorar sem estar presente. É uma Hubris de dimensões assustadoras. Hubris é o pecado da onipotência. A funçao de criar um homem a minha semelhança, nomeá-lo e dar a ele qualidades é função Divina.Voce lembra como no filme Blade Runner, os andróides se agarravam as suas fotografias, criadas para simular uma infancia e uma identidade? Era sempre o momento mais triste do filme.

Feliz Natal.

dezembro 22, 2015

A fotografia, o retrato e a identidade

 

O aspecto mais importante da fotografia é definir a identidade de coisas e pessoas.

A fotografia deixa de ser apenas uma curiosidade científica e ocupação exótica quando a Kodak aparece com cameras e filmes em rolo. Até então só familias de posses e posição podiam contratar retratos a um pintor. Após a popularização e massificação da fotografia ocorre uma transformação radical na maneira como somos identificados. Antes da Kodak, não eramos determinados pela fotografia. Após a Kodak, tudo e todos serão identificados com imagens. A fotografia não tem a subjetividade, a interpretação da pintura. A pintura nunca se identifica completamente com o Real. A pintura cria imagem, interpreta o olhar. A fotografia passa a ser o Real.

A pintura é maleável a interpretação. A fotografia é uma tecnica “dura” ; a perspectiva e o claro escuro são determinados pela camera. A fotografia revela algo intrinseco ao objeto.. independente do sujeito que olha. A fotografia é irredutivel de certa forma, não expansiva. O primeiros fotografos “de arte” disfarçavam a irredutibilidade da imagem fotografica com foras de foco diáfanos e cenários teatrais criando um atoleiro estilistico de climas e drama, guiados pela pior pintura. A fotografia era uma tecnica nova aguardando por uma nova sociedade, assumidamente cientifica, para revelar seus novos valores. O seculo XX.

Os artistas de vanguarda entenderam que a camera era a materialização de uma ideologia. A camera não interpretava a priori, como fazia o pintor mas “revelava” um duplo da visão, um outro aspecto dos seres e objetos ainda virgem de interpretações. Duchamp se deixou fotografar como mulher, Rose Selavy. Para os surrealistas, a camera fotografica era o seu principio e ideário materializado em objeto industrial (se conhecessem a camera automatica, teriam ainda outro extase!).

Paul Strand fotografou então as proprias cameras: elas eram o novo sujeito/ objeto. Nenhum artista jamais pintou um pincel. A mecanica e a objetividade eram uma vanguarda. A camera, um olho/ memoria capaz de ver de muito perto, de baixo, por cima, por dentro do tempo. Eram novos pontos de vista. Manuel Alvarez Bravo fotografou a morte: um corpo de um jovem assassinado, ao chão, sangue escorrendo da boca, a vida não mais presente.. e a beleza intacta. O pais do sol e da morte. As fotos de Bravo, sempre sob o sol forte. Alvarez Bravo encontrou o que os latino americanos sempre buscam desesperadamente: uma arte avançada de carater local. A fotografia Mexicana.

Logo após Duchamp inverter um Urinol e nomeá-lo fonte, Edward Weston fotografou um vaso sanitario. O titulo da imagem: Excusado. Weston tinha largado carreira comercial, mulher e filhos e se mudado para o Mexico com Tina Modotti. Excuse him… Tinha feito merda. Latrina, merda, exilio, marginalidade. A privada de Weston, banhada em uma luz delicada, Duchampianamente, lembra as igrejas de adobe de Taos, do Novo Mexico. Inversão de expectativa e sentido.

Enquanto a vanguarda criava ambiguidade, a fotografia fazia parte de um projeto inverso: identificar tudo e todos de maneira inequivoca. Em muito pouco tempo passamos a ser identificados através de imagem em passaportes, carteiras de identidade, jornais, filmes, televisão. Dominio absoluto da imagem fotográfica no cotidiano. A fotografia ganha total independencia da arte e constitui um novo conhecimento feito de frações de segundo aonde tudo que há se faz imagem e o mistério desaparece. A religião se torna obsoleta. A fotografia é clara: imagens de balas de revolver atravessando o espaço, de fetos na placenta, dos anéis de Saturno, de soldados no momento de sua morte. A mulher mais bela, o feito mais audacioso, a guerra mais sangrenta, o ártico e antártico. A imagem se torna prova e evidência, não mais interpretaçao e subjetividade. A imagem passa a ser o conhecimento do Real, valendo mais do que mil palavras.

Como? Não pertencemos ao mundo de concepção judaico cristã aonde Deus, a verdade é palavra? Como posso ser conhecido em imagem quando a consciencia e aquilo que sou é palavra? Do antigo testamento ao inconsciente psicanalitico cabe a palavra enunciar a verdade. A imagem não constitui verdade nos textos sagrados. A imagem é superficie … e no entanto cria-se uma sociedade de informação a base de “imagem documental”: fotojornalismo, foto de identidade. Há uma expansão do ícone religioso, da materialização, do ídolo. A imagem fotografica, produto de uma sociedade cientifica, resultado da expansão capitalista da Europa cristã é claramente um anti cristo(Piss Christ, de Andres Serrano faz sentido).

A sociedade de imagem é um travestimento, uma farsa aonde se pretende recuperar o paraiso perdido. Todo o corpo e materia, renegados pela moralidade monoteista, passam a ser representados obsessivamente. Corpos e faces gigantescos no Times Square. Dos anuncios de lingerie a National Geographic, a imagem fotografica reproduz obsessiva e incessantemente a natureza. A sociedade de imagem é ansiosa porque é uma sociedade de simulacros. Tudo é mostrado e nada é usufruido. A natureza é prometida em imagem e a promessa não é cumprida. É um acordo tácito: eu recebo a informação, o fato… mas não a coisa em sí. A imagem se torna exasperante. A imagem documento promete o saber e é incapaz de cumprir. Há uma inversão histérica da repressão aos sentidos com o oferecimento de imagens cada vez produzidas em maior velocidade. A ficção necessária ao entendimento da vida, o mito, é desmoralizado por “documentos”e fatos. Em lugar da repressão aos sentidos, a ausência de sentido. Ausencia de identidade.

A fotografia revelou a sua vocação: aparato de controle e alienação. Moda , beleza, paisagem, jornalismo, festas de casamento e batizado. Villhem Flusser, em seu livro sobre a fotografia, deixou claro que o fotografo trabalha para ampliar a capacidade da maquina fotografica. Os sistemas avançados de fotometria por exemplo, se baseiam em milhares de fotos já realizadas. A memória do computador instalado na camera, compara a imagem enquadrada no visor com um arquivo de imagens impessoais “de qualidade” e regula a maquina. Esse é o exemplo mais óbvio. Fluss pensa como William Burroughs, muita gente na ficção cientifica e o pai de todos eles: Kafka. Já vivemos a sociedade da Máquina, para alem do humano. Terminator. Extensões do corpo em vias de substitui-lo. Humanismo em conflito com a ascenção de robôs e cyborgs. O conhecimento se torna informação que é coletivizada na internet em uma grande memoria coletiva, sem valores criticos; um cerebro tecnologico que mede a importancia de cada assunto pelos hits no Google. Trabalhamos para esse grande cerebro postando no Facebook, teclando no Google, no Youtube. O cerebro maquina dividindo sua satisfação em ser acionado com grunhidos e barulhinhos fofos. Quem assistiu ao Naked Lunch de Cronnemberg, percebe a assustadora analogia daquelas baratas/ maquinas de escrever repulsivas e seu prazer em serem tocadas com a nossa navegação compulsiva na internet. As dadivas tecnologicas estão devorando os valores e significados da cultura. Se Paul Strand, um humanista, soubesse que a maquina se tornaria Senhor e o fotografo, servo, pensaria duas vezes antes de fotografá-la .

Os fotografos bem sucedidos comercialmente em generos como o fotojornalismo, moda, still life são refens do seu papel dentro da maquina social quando avançam as estéticas fotográficas. O fotojornalismo traz uma falsa inclusão para aquele que vê imagens da “realidade”(nome sintomatico de uma revista). Ele é excluido do mundo de ações. Ele é um espectador. Susan Sontag observou que quanto mais o individuo se vê diante de imagens documentais da violencia mais mais insensivel ele se torna. Quanto mais expostos as imagens de uma ignominia mais alienados nos tornamos do sentido daquela tragédia. O individuo inserido no fluxo de informação não age já que o mundo do qual ele tem tanta consciencia é sempre uma superficie, uma tela, imagem fotografica.

A segunda metade do seculo XX foi a falencia da individualidade através de sua exacerbação. O individuo para quem tudo aparentemente se dirigia entrou em colapso. Não é a toa que as fotos de Andreas Gurski arrebataram a todos nós; o seu assunto é a multidão. Centenas, milhares de pessoas povoam suas imagens. Olhar para as suas fotos é uma epifania: tomamos consciencia da multidão como novo sujeito/ objeto da história. A contemporaneidade estimula um individuo a opinar, votar, participar … ao mesmo tempo o torna uma reliquia. Ele não é mais o objeto do pensamento e da arte e não é o sujeito da transformação. O livre arbitrio se tornou uma reliquia. Não é a toa a necessidade premente do Budismo e da Yoga. A alienação é tão extrema que adoecemos de tristeza e solidão. Só o saber do corpo pode nos trazer um renascimento do espirito. O saber da imagem foi superado pelo saber da palavra em determinado momento da Historia porem esse saber se mostrou impotente para dar conta da desumanização. O saber do corpo é a nova fronteira, criada por artistas como W Burroughs, na era de Aquarius e liga o ser direto a materia sem se deixar enredar por necessidades de Estado.

Com a rara exceção de Helmut Newton que mostra a conexão sexo> poder e coloca a mulher como mestre e escrava, os fotografos de moda se dedicaram ao Belo.. e produziram zero de conhecimento sobre o mundo. A arte produz verdade enquanto alegoria/ ficção. A arte é revelação (assim como a fotografia) e jogo, como o xadrez. “As meninas” de Velazques promove um jogo de olhares: Na cena retratada, o pintor faz um retrato os reis de espanha. Eles, que presidem toda a ordem social, não aparecem. Vemos as meninas, as coadjuvantes. Exatamente como em uma foto de moda ou publicidade aonde vemos so coadjuvantes: modelos e produtos. Mas Velazquez mostra que a pintura é sobre os donos do poder. O espectador tem que agir sobre as peças daquele tabuleiro e interpretar o que esta sendo mostrado. POrque o fotografo de moda não ocupa uma posição de revelação do poder? Porque ele não cumpriria o mesmo papel de Velasquez revelando o tabuleiro social e o seu proprio papel em revistas como a Vogue? Talvez porque o poder seja a propria camera, a industria, a maquina… Talvez por isso os artistas contemporaneos enfrentam, se debatem com a perspectiva e a verdade da imagem fotografica. Quando deformam a perspectiva e adotam dois ou mais pontos de vista diferentes na mesma imagem ( Loretta Lux) ou incorporam varios tempos de exposição na mesma imagem como Gurski, Michael wasely e Sugimoto, criando imagens sem laços com a propria visão…eles representam a propria fotografia.

O que seria um retrato “bem feito”? Enaltecimento de uma personalidade? O sujeito fotografado a priori é “carismático”, “inteligente” ou “sexy”.. O retrato nos meios de comunicação afirma o carisma de um individuo; o que quer que isso signifique. Um momento de ruptura se deu na coleção de retratos do fotografo Richard Avedon. Ele foi o mais potente produtor de elegancia, brilho e glamour de todos os tempos; capaz de criar auras radiantes para retratos e glamour de extase para as paginas de moda. Em determinado momento, Avedon tem uma epifania e abandona o belo. Ele ataca as aparencias. Seus retratos de nomes celebres da sociedade americana se tornam opacos … de uma solidez repugnante. A materia se torna repugnante. Avedon passa a utilizar uma luz dura, crua. A camera escolhida é pesada e lenta de operação. Ele cria imobilidade, peso nas imagens. O retratado sofre desconforto e insegurança. A vida expressa nas imagens é desconfortável, terrivel.. um fardo. As imperfeições fisicas se tornam um assunto. A existencia é provaçao, um fardo. A imagem do homem não seduz. A personalidade é palavra e não imagem. Descrever o ser em retrato, em imagem não é possível.

Por outro lado Avedon é um americano e para os americanos a individualidade é o fundamento da sociedade. A psicologia do individuo é preciosa. A principio seus retratos parecem comentar a solidão, a tensão gerada pela existencia. Seus retratos parecem fundados e ligados a psicologia. O retrato seria o encontro de uma verdade comum a todos nós: o desconforto da existencia. Já seria algo proximo a moral monoteista mas Avedon vai mais alem. Não sei dizer se foi ele o primeiro fotografo a encontrar esse ponto mas Avedon descobre um “furo” estrutural da fotografia: sua vocação para definir identidade seria um mito. Ele encontra uma dissociação de materia e espirito. O Espirito está ausente da imagem. A fotografia não revela o brilho (e poder) do sujeito. Apenas carne, pele, osso e olhares perdidos. Há pouca identidade entre imagem e objeto.

O exemplo mais expressivo desse momento de ruptura é o retrato do escritor Truman Capote. Conhecido por sua verve espetacular, Capote é sucesso, encantamento e Glamour. Na foto de Avedon, é um homem de pele gasta e olhar opaco. O contraste entre imagem e poder, identidade… consciencia do retratado, é impressionante. Truman Capote não está alí! A inteligencia está em outro lugar. A conversa brilhante não está alí. Avedon recusa os truques e não emposta no corpo de Capote uma identidade cliché. Aquele retrato não revela um homem e sim as proprias limitações da imagem na representaçao da identidade. Arte.

Eu duvidei da conquista de Avedon a principio. Seu status de fotografo celebridade permitiria adotar uma postura gauche e produzir uma foto “ruim” de Truman capote . Seria um maneirismo, uma estetica “cool”. Foi quando comecei a pensar os problemas da palavra x imagem que entendí como ele abandonou a estetica para reencontrar a ideia basica do monoteismo: a verdade do ser não se revela em imagem. Os retratos de Avedon reencontram a visão monoteista, judaica do sujeito no mundo.

Os alemães constituiram uma consciencia de cunho social. Marx escreveu sua teoria e projeto comunista para e sobre a Alemanha. A identidade é dada a partir do social na Alemanha. August Sander desenvolveu um projeto ambicioso: faria um retrato da Alemanha em retratos de individuos alemães . O projeto foi adiante até a tomada definitiva do poder pelo nazismo quando seu estudio e arquivos foram empastelados pela policia politica. Sander fotografou os alemães colocados em sua posição na ordem social: o individuo de Sander exerce uma função. O pedreiro, o juiz, o estudante, o intelectual, o artista… a criança cega, o cigano. A humanidade de cada um dos retratados deveria emergir porem contida formalmente no uniforme e postura referente a cada função. Sander encontra um reflexo tenue, uma certa ambiguidade em relaçnao a esse papel mas o individuo parece estar adaptado, colocado em seu lugar. A hieraquia simplesmente existe ao mesmo tempo que um brilho do espirito humano. Aquela tenue transcedencia da materia. Na coleção de retratos de Sander, o individuo não luta contra seu lugar no mundo. Sander é neutro em relação a hierarquia social e essa neutralidade é avançada. Um conservador? Os fotografos de 1930 e poucos nos Estados Unidos, Mexico e Europa eram ligados ao socialismo e aos movimentos de transformaçao da hierarquia social. Não há crítica social em Sander, apenas reconhecimento. Porque a repressão do Nazismo ao seu trabalho? Foi por reconhecer ciganos, artistas, homossexuais, judeus na ordem alemã. Por representar a Alemanha sem consultar os Fascistas. Em uma de suas fotos, tres rapazes camponeses se dirigem ao mercado em dia de domingo. Eles estão em uma estrada enlameada, vestidos como cavalheiros, dandis com bengalas e chapéus posando para a camera. A composição é simples. Sander não sugere nada além da contradiçao campo x cidade mas alí aparece de maneira elegante e sucinta um momento da historia alemã: a luz atraente da cidade sobre o campo, os valores urbanos transformando e conquistando o coração dos camponeses. Essa imagem de Sander aparece em um documentario do cineasta Wim Wenders, “Notebook on cities and clothes”, sobre o estilista Yohji Yamamoto nos anos 80. O designer tem as fotos de Sander como matriz inspiradora de suas coleções de moda e essa em particular é a que mais move sua inspiração. Em outro retrato de Sander, um jovem intelectual de olhar inteligente segura um cigarro entre dedos delicados… Eu me pergunto: Qual o estado de alma desse individuo? Não há psicologia na imagem, só a pose. Não sei se as figuras de Sander se sentem sós, se são alegres ou tristes. Existir, nesses alemães, se dá através de um lugar na sociedade e um lugar vale tanto quanto o outro: todos eles são fotografados pelo mesmo angulo. Para Sander a observaçao é uma função da curiosidade e não do enaltecimento ou critica. Essa neutralidade antecipa os anos 80 quando aceitamos um individuo equilibrado entre determinação social e provação psicológica. Até que Gurski e outros alemães da Escola de Arte de Dussseldorff abandonam de vez esse individuo dilacerado como motivo da obra de arte.

Thomas Ruff, companheiro de Gurski, acabou com a identidade em suas imagens alterando os rostos no computador, eliminando caracteristicas. Ele faz o mesmo nas fotos de exteriores de edificios, eliminando detalhes que atrapalhem uma imagem “ideal”do lugar. Huff procura a simetria nos rostos e na paisagem urbana. A dieia de Belo e mesmo de arte está ligada a simetria e proporçnao., a luta contra o caos e a irregularidade do muhdo. Esse caos nõa nos deixaria a possibilidade de conhecimento e coerencia. A simetria é uma solução, um meio, um controle sobre o mundo. A propria ideia de que o homem “naturalmente”procura a simetria é uma verdade cientifica para explicar a noção de Beleza. Ruff aplica essa ideia, levando a um extremo grotesco. Suas imagens nõa são bonitas, não criam identidade para os objetos mas sim para o fotografo: uma identidade de artista intelectual, de critico de sua propria função: um destruidor de estéticas.

Americana, Annie Leibowitz vai no caminho exposto . Nos Estados Unidos, o individuo é antisocial. Os americanos glorificam seus outsiders: gangsters, crazies, beatniks, rockers.. Os idolos estão em luta contra a hierarquia. A sociedade é uma limitação para o indivíduo e toda a realizaçao plena se dá na realização de uma fantasia individual. Living the dream, como diz a expressão. Os Estados unidos são a terra dos imigrantes que cruzaram o horizonte, o oceano e encontraram uma nova identidade. A sensibilidade americana é tocada pelo individuo que supera aquela identidade fornecida pela familia, pela cidade pequena e cria uma outra, mais fiel ao seu desejo. Para realizar a transformação o individuo precisa de poder, através da violencia e da fama. Jesse James, Al Capone, Louis B Mayer, Madonna. Esses indivíduos se reinventaram. Louis B Mayer passou de judeu imigrante, pobre, ignorante e humilhado a todo poderoso produtor de cinema, contador de estorias. Madonna? Elvis? Ao contrario da Alemanha, a America é o lugar da transformação individual. O papel do Americano é não aceitar um papel mas criá-lo. A fotografia de Annie Leibowitz representa literalmete essa reinvenção do individuo. Ela não só mostra o resultado, o individuo em sua nova pele mas tambem os instrumentos, o processo de transformação. É a sua marca, São os tripes, as bordas de fundo infinito, os ventiladores aparentes nas fotos. A luz artificial e a luz natural presentes na mesma imagem. A foto de Leibowitz é uma passagem.

As estrelas de Leibowitz interpretam a si mesmos em novos papéis. Assim como os imigrantes, os miseraveis se tornaram colonos, gangsters e produtores de cinema, os atores de Leibowitz se tornam colonos, cowbois e figuras da Disney. É a exasperação da fantasia Americana. Whoopy Goldberg em uma banheira de leite, Demi Moore gravida, nua.. imagens de choque que se alimentam da reação puritana catapultando a fama e o poder dos atores. Representação gerando mais representação. A America é um imenso artificio. Annie Leibowitz é uma artista Americana por excelencia. Ela está falida. Deve fortunas aos bancos. Leibowitz se identifica com os americanos tambem nesse momento de quebradeira e falencia.

Ao refletir sobre esses fotógrafos, meu interesse é provocar um questionamento tambem sobre a ideia de imagem brasileira. A idéia sempre nos parece duvidosa. A imagem no Brasil não se afirma. A incapacidade de promover cidadania que se arrasta indefinidamente nessa sociedade se confunde com a dificuldade de produzir imagem… porem isso é uma falácia. A Italia gerou visualidade em quantidade e qualidade durante a idade média, renascença, maneirismo, barroco enquanto as massas viviam na mais abjeta miséria. Assim como a Alemanha, os Paises Baixos. A dificuldade para a visualidade deve estar ligada a posição de colonia como dizia Glauber Rocha. As missões francesas e holandesa produziram imagem no Brasil porem daí não resultou fundamento para a produção visual de desenvolver. A maneira de ver, constituida na Europa e na America, quando chega aqui, se mostra incapaz de de propor questão, de chegar ao sublime na paisagem ou no retrato. Ao contrario, a imagem no Brasil aparece sempre próxima do ridiculo. Nem satírica ela é… mas ridícula. A vanguarda contemporanea no Brasil é iconoclasta. A relação da arte de vanguarda com a paisagem não produz imagem mas um relato do transe, da penetração: ser possuido pela paisagem, possuido pelo ambiente e pela multidão. É uma arte do corpo. O carnaval, o neo concreto. A Face Gloriosa de Arthur Omar. Os penetráveis de Helio Oiticica. O nome do disco mais radical de Caetano Veloso. A mata densa dos tropicos não deixa aparecer um horizonte. A mata tropical fechada, enigmática, enlouquecedora… Como o Congo de Joseph Conrad no Coração das Trevas. Enquanto na paisagem de Caspar Friedrich e Andreas Gurski o artista observa o horizonte, o brasileiro está dentro da multidão. Qual imagem fotografica produzir em um pais que avançou tanto na geometria e abstração?

 

Flavio Colker 07 de Setembro de 2009/ 12 de Outubro.

 

Para Jaime Carvalho.

 

 

 

dezembro 20, 2015

saí do facebook

Veja bem: eu adorava abrir o facebook. Era uma alegria, uma festa. Nunca me incomodei em ficar horas contando piadas, criando confusão, flertando, brincando com os amigos ou expressando minha indignação. Nunca perdí tempo. Sempre foi um ganho. Eu até brincava dizendo que me candidataria a vereador como “Flavio.. do Facebook”.

E eu saí da rede. Ou melhor: fui saído.. bloqueado, a conta eliminada. A razão? Nunca me foi comunicada e justificada mas eu tenho quase certeza ser devida a uma carta, inbox, com a foto de um menino nu. Uma obra de arte catalogada em museus, de Edward Weston, foto do seu filho. Minha amiga tambem foi bloqueada ao enviar inbox a mesma foto. A conta dela voltou e a minha não. Vigiam as cartas. Não deveriam ser privadas? Eu posso voltar ao Facebook. Basta entrar com outro email e assinar meu nome de maneira ligeiramente diferente. Só que eu não vou expor de novo os meus textos, contatos e cartas para serem confiscados do nada. Sem ter  com quem reclamar porque assinei um contrato com uma empresa aonde eles decidem o que é ou não é conteúdo impróprio, podendo mudar a qualquer momento os parâmetros. Eu havia publicado abertamente a foto do Weston, o menino nu,  alguns meses antes.

Qual o serviço prestado pelo Facebook? Esse serviço é prestado sob qual legislação brasileira de proteção ao consumidor? A quem eu reclamo? Cadê meus diretos? Pois é.. Fui bloqueado na véspera do aniversário de três anos do meu filho e a festa tinha sido organizada através do Facebook. Não darei mais esse poder a qualquer rede social. Não serei bloqueado e minha vida social confiscada por uma empresa que age como um Estado a margem da lei. Uma tirania arrogante que se apresenta como promotora dos direitos humanos.  Estado policial que apenas Kafka poderia imaginar, onde os cidadãos entram alegres por livre e espontânea vontade para serem explorados como mão de obra, produzindo o conteúdo que alimenta a rede. Não consigo pensar em nada mais semelhante a um Estado totalitário futurista. Democracia aonde se lincha sem argumento, prova, defesa e julgamento. Democracia da turba que se repete indefinidamente.   O Facebook é tão democrático como uma prisão de segurança máxima.

“Mas eu entro para me divertir”… para relaxar do trabalho. e brincar um pouco”.. E encontrar todo mundo se degladiando. Ex-presidente  se dirigindo aos militantes no facebook. Militantes insultando coxinhas. Atrizes negras sendo atacadas. Atrizes negras se promovendo ao serem atacadas. Militantes acusando racismo que nas ruas e casas ninguem  presencia. Nus inocentes sendo proibidos. Amigos rompendo amizades por causa de propaganda política enquanto o ex-presidente que roubou descaradamente seus eleitores faz declarações na rede. O Facebook é acolhedor e divertido como um arrastão.

“Mas eu entro para trabalhar”…  trabalhar para a rede,  produzindo conteúdo. A rede ganha trilhões. Resisti a protestar e mesmo escrever a respeito da minha expulsão. Precisava entender se seria capaz de viver sem o Facebook. Queria amadurecer minha posição. E amadureci: o mundo ficará melhor quando todos saírem das redes sociais. Para que  possamos de novo guardar o que estamos pensando. Para que o mistério sobre a vida privada seja revelado apenas a quem conquistou nossa confiança.Que fiquem apenas os militantes.

O facebook foi um aprendizado, um laboratório para aprender a  sensibilizar o outro com a escrita… agora é hora de voltar para a solidão  onde não vigiam nossa correspondência e não somos perturbados por turbas de linchamento politicamente corretas.

ADENDO_ O texto deveria ter tocado no principal. A rede funciona através de um algoritmo. Um numero inserido no computador que determina como voce esbarra nas pessoas, como os conhecidos e desconhecidos são dirigidos a sua página. O numero racionaliza tambem as reclamações a seu respeito, o boicote a sua pagina. A página do movimento Vem pra Rua foi suspensa as vésperas de uma manifestação que organizaram para atacar o governo. Os governistas em peso, exercendo seu papel de militantes virtuais, denunciaram  conteúdo impróprio.  O algoritmo computou as denúncias e fechou a página. Facebook é a democracia ideal para o dedo duro. A rede dá poder a massa sem garantias para o individuo. A democracia deve ser voltada a liberdade do individuo e garantir sua excentricidade! A graça do ser humano é ser diferente. É ser do contra.

Pretender que a simpatia, amizade e amor entre seres humanos seja dirigida através de um algoritmo é uma estupidez tecnológica.

Saiam dessa porcaria. A rede é escravidão.

 

dezembro 18, 2015

Diálogo de verão.

_ Tava pensando aqui…  Lembra da guerra contra o Pastor Marco Feliciano? Aquele que abomina o homossexualismo e coordenava a Comissão de Direitos Humanos?

_ Lembro.

_ O pessoal fazia piada dizendo que o fervor anti gay do deputado era o seu homossexualismo querendo sair do armário!

_ Pois é.. o individuo sentindo necessidade de reprimir aquilo que o ameaça lá de dentro do inconsciente.  Freud explica!

_ Mas vem cá.. e o sujeito que enxerga racismo em todo lugar? Tudo pra ele é racismo, machismo, sexismo…Ele tambem tá reprimindo o próprio preconceito?

 

 

 

 

 

dezembro 18, 2015

Conhecimento, verdade, prazer etc..

 

Tem aquela famosa pergunta ridícula: qual o sentido da vida? A resposta é: a busca de sentido é o sentido da vida.. Eu faço outra pergunta: qual o prazer da vida? Eu entendo como vida, a experiência de estar consciente. Então, qual o prazer da consciência? O prazer da consciência é ser expandida: saber mais .. superar o que se sabe muitas vezes contradizendo o que sabía, mudando de idéia. O prazer da consciência é o mesmo  do universo: crescer e se multiplicar, influenciando.

O prazer de estar consciente é o prazer de aprender. Aprender novas sensações em novos lugares. Aprender como funciona a natureza através da física, a matemática, a filosofia e a teologia. Até o amor acontece em consequência do desejo de aprender. A paixão acontece quando encontramos alguém que sabe sobre o amor.. Procure lembrar desses momentos… primeiro acontece a admiração, seja pela elegância física ou mental e depois a lógica do coração se estabelece: taí alguém que vai me mostrar algo sobre o amor. Antes da posse, aparece a consciência da vontade de aprender. Não por acaso, o amor entre aluno x professor é um caso clássico.

Vamos continuar com o aprendizado em lugares pouco ortodoxos. Por exemplo, a propaganda. A televisão anuncia um carro que é sinônimo de Liberdade, Aventura, Classe, Sexo…. Bobagem.. Essa receita está falida. Essa fase acabou.. As promessas de felicidade fornecidas por um nome tem sabor de decepção. Imediata quase.. Outro dia eu acompanhava um debate entre artesãos de bicicletas, feitas a mão.. sob medida. É um tipo de criação peculiar: a interação entre construtor, ciclista e maquina cria um caso de amor, uma busca de felicidade. No debate, os artesãos queriam um marketing que garantisse sua sobrevivência comercial. A mágica estaria no nome, na marca, segundo um publicitário que apareceu entre eles.. no culto a personalidade. Errado. O nome deve carregar algo consigo; conhecimento. Queremos a “coisa real” porque a vida é curta. Queremos ser admirados. Admiração pelo dinheiro apenas, é suspeita. Talvez o dinheiro não seja merecido. A admiracao inequívoca é oferecida aquele que conhece mais.. Conhecimento sobre o mecanismo dos materiais, sobre as possibilidades amorosas; sobre o espirito, o corpo e a mente humana.

Admiramos os mestres… e admiramos a hierarquia do saber. Nas artes marciais, a admiração pelo saber e o aprendizado acontecem com estrito respeito a hierarquia. Há um amor pela hierarquia no Dojo e admiração pelo mestre. As artes marciais cultuam mais o aprendizado do que a vitória no combate.

Admiramos os artistas pelo conhecimento das formas. O prazer de ouvir uma canção nasce da admiraçao pela perfeição melódica e instrumental. Admiramos uma bicicleta pelo conhecimento das formas mecânicas que ela contem. O conhecimento transmitido está na base de toda atração intelectual.

Eu ja pensava em escrever essas reflexões quando liguei a televisão na casa de uma amiga (não ligo TV em casa) e dei por acaso com um programa sobre a greve estudantil nas escolas secundarias. Um jornalista conversava com duas lideranças do movimento estudantil secundarista que teria invadido as escolas na cidade de São Paulo e interrompido as aulas. Um moço e uma moça eram entrevistados.. O que me chamava a atenção era a afirmativa dela: o governo do Estado não teria consultado os estudantes quando elaborou uma reforma no ensino. Se a moça dissesse que os professores não haviam sido consultados, faria sentido porque são eles que transmitem o conhecimento e portanto devem ter autoridade junto a burocracia. Os pais não foram ouvidos sobre mudanças na escola de seus filhos e foi um erro mas.. os estudantes de 12 a 17 anos se organizaram para decidir a politica educacional? Baseados em que conhecimento? Não..não era o caso. Era a burocracia politica e partidaria que mobilizava os estudantes para atacar a burocracia de outro partido; com fins de barganha, poder. Uma luta entre velhos, entre gente que blefa e se esconde atrás de meias verdades. A  líder estudantil dizia na TV que os alunos desautorizaram o Estado mas não contou quem decidia o que dirigidos por quem. Meias verdades. Em principio, crianças não podem ensinar aos adultos como educá-los porque não sabem. A perda de hierarquia gera um horror como no filme IF com o Malcolm Mc Dowell… mas não era nem o caso.  Políticos velhos se esconderam atrás de crianças para atacar outros politicos velhos. Esconderam a ascendência sobre as lideranças estudantis para jogar uma cartada, usando crianças como  cartas de um blefe.  A hierarquia das meias verdades justo no lugar aonde se ensina a verdade .. a escola.

dezembro 13, 2015

Pequeno diálogo sobre responsabilidade individual.

Isabel_ A maioria dos grande empresários é tão vítima do clientelismo quanto o pessoal do Bolsa Família e das cotas, embora com menos desculpas para isso.

Flavio_  O clientelismo nasce da falta de principios dos individuos. Os principios não são apenas Não Roubar.. mas ter responsabilidade sobre o espaço de trabalho, de aprendizado, de formação intelectual e cultural.

Quando ninguem é responsavel por nada, o Estado, a sociedade passam a ser responsáveis por tudo… e se todos dependem do Estado, e da sociedade, somos chantageados em troca de apoio politico: Vote certo! Ou vai perder as oportunidades que criaremos para voce.

Os empresários poderiam sustentar a filosofia politica, de todos os matizes. Para que haja escolha de pensamento. Sustentar o teatro, os livros, o cinema de todos os gostos.. e assim não pagaríamos impostos para manter cultura estatal. A cultura é dever empresarial, individual até e não do Estado.

Isabel_ É obrigação do ser humano e quanto mais poder um ser humano tem, mais obrigações.

Flavio_ O Estado gigante e esse Deus chamado Sociedade.. geram a mentalidade preguiçosa e irresponsável.

Se cada ser humano assumir mais responsabilidade, poderemos então nos livrar dessa entidade vazia, opressiva e sem significado concreto algum: a sociedade.

isabel_ Tenho que entender melhor essa ideia de sociedade…
flavio_ A sociedade é uma fabricação ideológica.. uma idéia forçada, criada para desmoralizar o mito, o herói, a divindade; essas figuras fundamentais  passam a ser apenas ilustraçoes, carros alegóricos das necessidades sociais. A necessidade social é um falso mito, uma falsa divindade, opressiva e destruidora da grandeza humana.  Se voce notar, toda grande arte é anti social. E a sociedade sempre atenta para catalogar esse livro, pintura ou filme  em seus panteões, alguns  sem verba de manutenção no momento ou então recebendo a vista de um ministro.
isabel_  Ah, a sociedade como entidade e não como descrição da realidade?
Flavio_ Qual a diferença?

dezembro 2, 2015

Império

 

O Imperador cresceu só. Sua mãe morreu quando ele tinha um ano, seu pai foi para o exílio quando o Imperador tinha apenas sete. O menino estudava. Seus tutores criaram um código de valores e virtudes, um conjunto irretocável de princípios para sua formação. Ele cresceu entre páginas de livros e palavras de professores, sem irmãos ou irmãs, em um país distante do continente onde sua família, os Habsburgos,  Orleans e Braganças, reinava há séculos. O Imperador nasceu e cresceu em um Novo Mundo de matas e rios, de índios e ex colônias que se tornavam Repúblicas. Quantas crianças crescem sendo preparadas para governar os homens? Quantas foram bem sucedidas? Quantas herdaram a tradição de um continente para governar em outro? Quantas foram tão sós? A solidão do Imperador sempre foi imensa. Educado para enxergar os problemas do país, do alto de toda a cultura acumulada no Ocidente e governá-lo com sabedoria e equilíbrio… assumiu o trono aos 14 anos de idade. O império durou o suficiente para o menino envelhecer e nele florescerem tantos homens brilhantes e inteligentes quanto fossem necessários e a liberdade permitisse. E assim deveriam caminhar as nações.

Seu país foi colonizado de maneira diferente dos vizinhos. Foi miscigenado. A única monarquia em um continente de Republicas e o único país mantendo escravos.  Agora estamos diante da velhice do Imperador. Sua filha, a princesa, governa enquanto ele fazia viagens ao encontro da sua verdadeira família: o conhecimento, a matéria impressa nos livros, a arte, a filosofia. São as regências da Princesa. Ela governa, humanista e tolerante as divergências.. como governa o pai. Católica. Isabel. Da Igreja, recebeu a compaixão. Para seu desgosto, ainda se mantinham escravos no Imperio.. A escravidão era absurda. A escravidão é uma ignomínia: não se pode vender gente! O ser humano não é propriedade e a Princesa protege os escravos que fogem das fazendas em um quilombo onde cultiva rosas brancas que se tornam simbolo da Abolição. A abolição que se falava em todo lado; nas ruas, na corte, na camara de deputados e no senado do Imperio.. A família imperial queria a abolição mas a monarquia era constitucional com seu gabinete, câmara, senado onde os senhores de escravos defendiam sua propriedade. Era o fim do século e aquela era a ultima nação que ainda mantinha escravos. Esse atraso nunca vai se pagar. Os tempos eram já de capitalismo a pleno vapor. Na capital do Imperio havia classe media, industrias e trabalhadores assalariados . Até escravos faziam bicos assalariados. Bicos que podiam comprar alforria… os escravos de ganho. A libertação acontecia desde o começo do século por bondade dos senhores ou habilidades dos escravos.

Havia algo peculiar e contraditório no Imperio: mantinha escravidão e pouco discriminava os homens de cor. Os Estados Unidos acabaram com a escravidão mais cedo mas logo construíram um sistema declarado de discriminação racial. Enquanto a corte do Imperio permitiu o acesso e prestigiou homens de cor, filhos e netos de escravos quando manifestavam talento e inteligência! Os melhores escritores, engenheiros, músicos, banqueiros,conselheiros e políticos podiam ser negros e bem sucedidos. Podiam ficar ricos, influentes e respeitados .. em plena escravidão. Brancos e negros casaram entre sí e reconheceram suas crianças. Chiquinha Gonzaga era filha de um General do exército Imperial que casou com sua mãe, ex escrava. O mundo civilizado que havia escrito os livros de formação do Imperador, que colonizara aquele país já havia virado a página da escravidão… mas desenvolvia o preconceito, o racismo enquanto o Imperio ignorava a diferença de cor. A literatura da moda no Brasil, romanceava loiros e mulatos. Se dançava a umbigada nos salões.

O Imperador era a favor do futuro e do conhecimento. Trouxe o telefone e patrocinava a fotografia. Patrocinava Luis Charcot na Europa, o cientista que abriu caminho para Freud. Conversava com Richard Wagner e Friedrich Nietzsche. Tolerante, suportava as críticas mais ferozes dentro de um ambiente de liberdade de expressão. Separava o exercício do poder do enriquecimento pessoal. O Imperador foi a elite avançada, ética, de que o país hoje sente falta. Era um pais diferente em construção. Os irmãos Rebouças equacionavam a problemática distribuição problemática de água no Rio de Janeiro e dirigiam a construção da ferrovia Curitiba- Paranaguá. André Rebouças propõe a reforma agrária e uma nova economia brasileira… Era um empresário de sucesso. Negro. Aconselhava o Imperador como o seu pai já aconselhara antes. O pai de André, filho de uma escrava alforriada e alfaiate português, foi advogado autodidata, deputado e conselheiro de D. Pedro II. Alguns dos gênios de maior prestigio na corte eram negros e mulatos vindos de famílias humildes e entravam no Palácio por mérito e criatividade. Vinham de famílias com ex escravos onde a virtude da colonização portuguesa aparece de maneira comovente: crianças reconhecidas de casamentos assumidos perante a lei e a Igreja, sem proibição, violência e principalmente sem vergonha alguma da cor na pele de seus filhos. A virtude se estende a uma sociedade que ofereceu meios para o talento de homens de cor desabrochar em carreiras brilhantes. Machado de Assis se torna um dos maiores escritores do mundo e cria a Academia Brasileira de Letras. Chiquinha Gonzaga é maestrina da música popular brasileira e faz imenso sucesso. Luis Gama, que foi escravo, se alfabetiza aos 17 anos e vai escrever nos jornais. Cruz e Souza, o poeta simbolista, é filho de escravos alforriados. “João da Cruz desde pequeno recebeu a tutela e uma educação refinada de seu ex-senhor, o marechal Guilherme Xavier de Souza – de quem adotou o nome de família, Sousa.. A esposa do Marechal, Dona Clarinda, não tinha filhos, e passou a proteger e cuidar da educação de João que aprendeu francês, latim e grego, além de ter sido discípulo do alemão Fritz Müller, com quem aprendeu Matemática e Ciências Naturais.”.. está na wikipedia. E ainda tem Nilo Peçanha..

Abolicionistas se dividiam entre o monarquismo e o Republicanismo. A escravidão e a Monarquia eram atacadas ao mesmo tempo. Alguns republicanos flertavam com ideias que impedissem o convívio de negros no melhor espaço social do país.. Joaquim Nabuco, Rebouças, José do Patrocinio eram abolicionistas e monarquistas. A Princesa assina o fim da escravidão e se nega a sangrar os cofres do país para indenizar os proprietários de escravos que passam a apoiar um golpe republicano.   A Princesa se torna a Redentora de um povo que tem tambem sua Padroeira, Nossa Senhora de Aparecida. O Brasil é patriarcal mas sua alma é feminina.. e católica. Começa um culto a Princesa Isabel. O povo negro, os presidiários, as prostitutas, os pobres e humildes amam a Princesa. Há um um sentimento alinhado à família real e os republicanos radicalizam os ataques à Monarquia nos comícios. Nesse momento, o abolicionista José do Patrocínio organiza a Guarda Negra da Princesa.

A formação da Guarda Negra da Princesa Isabel é um episódio ainda misterioso. Falta História… e sobra um símbolo fortíssimo de aliança entre a elite intelectual do país, a corte e seu povo mais pobre, destituído. Esse símbolo é poético: uma princesa devota à caridade, à bondade, protegida por capoeiristas negros libertos da escravidão, prontos a dar a vida por sua redentora e pela monarquia. Capoeiristas das maltas Nagoás de ex-escravos ex combatentes alforriados pela guerra do Paraguai que dominavam o Rio de Janeiro das áreas rurais até o Campo de Santana. Um símbolo de transcendência e transformação: as maltas de marginais donas de territórios na cidade em conluio com políticos pouco afeitos a virtudes, transformadas em elite de combatentes com um ideal. Elite porque tinham ideal: juram defender a Princesa em uma cerimonia secreta quando entram na Guarda Negra.

Quando cai o Imperio, André Rebouças se exila junto com a Princesa e o Imperador. Da wikipedia: “fora a família real, seguiram juntos no vapor – por amizade, e não por imposição republicana – o barão e a baronesa de Loreto, o conde Mora Maia, o barão e a baronesa de Muritiba e o engenheiro abolicionista André Rebouças, com quem o imperador se deleitava em conversar.”.. O exílio de Rebouças é sintomático do fim de uma Era, o fim de um projeto diferente de sociedade, de elite. Esse país onde o povo amava a família real que veio de Portugal é interrompido apesar da dedicação da Guarda Negra em proteger a Princesa. É inegável que hoje o espaço de prestigio social se encontra muito distante do homem de origem simples, de cor, do mulato. Em algum momento, houve um corte. A distinção que antes era de homem livre x escravo se multiplicou em várias distinções que servem como barreira à circulação da inteligência , da justiça, da oportunidade. Distinção de cor, de diploma e formação. Erigiram barreiras entre o Palácio e a rua. Algumas sutis e outras de cimento, grade e arame farpado. A hierarquia social se transferiu para a institucionalização do saber. A universidade, a principio uma ferramenta de liberdade, passa a ser barreira para a inteligência informal não apenas do negro mas de toda forma excêntrica de saber. Luis Gama foi alforriado, se alfabetizou aos 17 anos, estudou o que precisava saber e foi escrever em jornais aquilo que precisava ser dito. Machado de Assis foi estudando e aprendendo. A informalidade do saber foi fundamental para facilitar a ascensão de gênios que eram negros e sem posses. No Império, os originais, o diferente, aquele que se constrói sozinho encontrava a porteira aberta para entrar no palácio, encantar o povo e dialogar com o poder. Houve depois um eclipse sobre o brilho intelectual do homem negro no Brasil. Quando se torna impossivel o surgimento de engenheiros/ líderes como André Rebouças? O Império abriu espaço para André enriquecer o Brasil. Por que hoje somos mais pobres em oportunidade, liberdade, igualdade? Curioso como a Universidade propõe uma divida histórica das elites com o negro sem mencionar em qual período da Historia os negros foram afastados do saber, como se nunca tivesse havido uma voz negra de prestigio nesse país.

É importante revelar virtudes que foram recalcadas e silenciadas. Vamos deixar de lado essa noção precária em que a nossa pasmaceira, injustiça e atraso são consequência da colonização portuguesa, de um D. João bobão e de uma Princesa Carlota Joaquina meio doida. Isso é conversa fiada. Se herdamos algo de Portugal, é a ambição única de miscigenação, de um corpo misturado de branco e negro. Cultura misturada. Poderíamos herdar também a visão de uma Princesa tolerante e bondosa protegida por capoeiristas, a visão de uma corte onde os talentosos entravam pela porta da frente para produzir obras geniais, sem impedimento burocrático, patrocinados por uma elite que se orgulha do gênio sem se importar com a cor de sua pele.

 

 

 

novembro 19, 2015

Três desejos de renovação cultural

 

Um filme com diálogos afiados e refinados, cortantes e eruditos. Um filme com personagens que gostam de falar e inventar frases espirituosas. Mocinhos e bandidos que leram bons livros e dalí tiraram conclusões engraçadas. Diálogos que sejam copiados depois para as conversas na rua, que renovem a conversa cotidiana que anda, aqui entre nós.. meio gasta. A ideia não é copiar a realidade mas inspirá-la! Um filme que faça da conversa espirituosa, a moda do momento.

Uma companhia de teatro que faça um recorte na Historia da Ciencia para uma encenação. Não estou falando de educar as pessoas. Quem precisa se educar vai a escola.. Estou falando de criar intimidade visceral com as descobertas e os descobridores cientificos.

Uma revista eletrônica com fotografia de alto nível, design de alto nível e texto de alto nível. Aí sim.. sobre a realidade cotidiana. Por que não existe isso? Junte um diretor de arte genial e um editor de textos genial. Eles existem e estão disponíveis. Se essa revista não existe é pelo mesmo motivo da falta do filme de diálogos afiados e a peça sobre idéias cientificas.. preguiça. Vamos trabalhar. E olha: pode ser com dinheiro das leis de incentivo ou não . Tanto faz.. não existe dinheiro ruim para fazer arte.

novembro 17, 2015

elogio ao refugiado

 

Repare nos refugiados.. Alguns deles estão dormindo sob uma marquise em Paris. Iluminaram a marquise para filmá-los com uma luz dura e a câmera filma de cima para baixo o homem se cobrindo para dormir entre pedaços de papelão. Nunxa tinha assistido essa violência sobre o sono. Quando me cubro para dormir, os estranhos estão afastados e estou protegido. Posso amolecer e me deixar invadir pelo inconsciente. Os refugiados são endurecidos. Não sinto pena mas profunda admiraçao por esse endurecimento. São voluntários de sí mesmos como são voluntários os que lutaram na Resistencia Francesa. Na Hungria, fizeram questão de dizer: não somosmendigos! Verdade. Não são frágeis e não são desajustados. São o exemplo mais claro de escolha e determinação em uma época aonde tudo nos é imposto: o celular, o facebook, o ateísmo, a consciência social, o seguro social, o centro de saúde, a escola, as eleições, o direito de expressão, a indignação, a subjetividade, o sexo, os filmes, a discussão, a religião chegam a sua casa, sua porta, seu computador em um e mail não solicitado, um telefonema do fornecedor dos serviços, uma discussao na rede social na pagina de um amigo que te adicionou. Voce clica e aceita. Basta ter a sua senha.

O refugiado não aceita mais. Nem o seu pais, a cidade, a sua casa, seu desemprego e o seu exercito nacional de fanáticos lutando por idéias tortas e imbecis. O refugiado parte em uma odisseia miserável sem Homero algum para narrá-lo. Ele busca a alternativa, sobrepujando perigos de uma grandeza simbólica como nunca mais o homem havia encontrado .. Embarcam em botes carregando o que tem para cruzar o mediterrâneo, clandestinos. Imaginem a força de uma lembrança como essa na mente de uma criança carregada pelso pais. É uma lembrança capaz de fazer ressurgir a poesia, a arte, as grandes narrativas.

O refugiado não aceita o destino. Não aceita sobreviver. Ele escolhe encontrar outra identidade que não seja o sobrevivente. Escolhe a transformaçao que lhe impõe um aniquilamento. Dormir sob marquises e ser o lixo da cidade luxo, sua comida em copos e pratos de plásticos enquanto uma câmera filma seus cobertores de papelão. Ele aceita o aniquilamento. Estóico. Escolhe o seu destino. Ele é forte. Tanto quanto os europeus, os latinos, os americanos do norte, asiáticos, russos, japoneses e australianos. Ele atravessou mar e montanha. Está afiado na caminhada e eu afirmo: são eles os exploradores espaciais, os astronautas. O refugiado é o homem do futuro.

Os refugiados parecem não possuir nada mas carregam algo que que eu e voce, nesse momento, não conseguimos encontrar em nenhum de nossos muitos armários em quartos aonde dormimos protegidos de qualquer estranho: esperança. Eu observo o rosto do rapaz afegão na câmera. Que rosto bonito, jovem, de olhar inteligente. O cabelo bem penteado. Como são bonitos os semitas. Articulado, prova ao repórter por a mais b que alí naquela marquise, ele e os companheiros jamais poderiam planejar um atentado terrorista na cidade. Como é inteligente.

 

 

novembro 15, 2015

A Imagem e o Tempo

A imagem é fonte de encantamento e revelação. Ela aparece pela primeira vez diante de Narciso que então fica hipnotizado. O fotografo tambem fica encantado e hipnotizado por cada imagem que consegue para si mas deve perceber que está diante de uma escrita, de um código da civilização. O seu trabalho é revelar a abstração que sustenta a sensação de realidade produzida na imagem.

A fotografia no seu principio vagou entre o natural e o sobrenatural. Entre o registro da mecânica dos movimentos na natureza e o registro das auras e espíritos em outra dimensão. As funções reveladoras criaram um caráter surreal para o fotografo. Ele sempre esteve ligado ao imprevisível.

O fotografo utiliza elementos estéticos para construir imagens, esses elementos devem estar diante do fotografo, naquilo que ele fotografa. A presença é um elemento importante da fotografia. A ausência também é um elemento importante. Presença e ausência da natureza física. A estética da fotografia está na frente do visor, fora da câmera, alheia ao fotografo, não aparecendo através das mãos, como no desenho. O alheio, o alheamento é uma angustia na fotografia, sendo enfrentada no auto retrato e tratada explicitamente por Mapplethorpe e Nan Goldin.

A imprevisibilidade também é consequência do alheamento, desse fazer fotográfico que não é controlado pelas mãos como o desenho e a escrita, mas por aquele e aquilo que estão diante da câmera. A imagem é imprevisível. Essa qualidade, fundamental ao foto jornalismo, eu procuro estender a todo resultado que envolve a fotografia. Aí aparece uma contradição, um paradoxo no trabalho do fotografo; sua produção faz parte de um código de signos como são os retratos, paisagens, still life… aonde as escritas pessoais contem elementos de uma escrita coletiva mas a cada vez que o fotografo produz um signo, ele trabalha com o tempo e sua imprevisibilidade. O tempo é o assunto principal da modernidade. A finitude, a fragmentação, a Historia estão expressas na fotografia, incessantemente. O tempo é o senhor do trabalho de todos os fotógrafos e ri de suas pretensões autorais. Enquanto no cinema há um controle do tempo na montagem e mesmo na captação, na movimentação dos atores, na fotografia still, todo resultado pertence em ultima instancia, ao Tempo, a época, expõe uma circunstancia. Essa desapropriação, esse alheamento, repito, é a fonte da importância do fotógrafo na cultura aonde a noção do tempo é a dimensão, potencia mais importante para a ideia de realidade. O único dado incontrolável no jogo.

O fotografo é o homem em contato com o tempo, nos fragmentos de segundo do obturador.

A fotografia pode se tornar uma estética porem a sua força está na constituição de uma escrita aonde os signos não são formadores de sentido e ética como as palavras mas pura consciência do tempo e sua imprevisibilidade. Curiosamente, é uma consciência que produz encantamento na psique a cada vez que uma fotografia é produzida mesmo quando diante do conjunto de suas imagens, o fotografo sente a angustia de pertencer a tudo e não possuir nada.

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La imagen es fuente de encantamiento y revelación. Ella aparece por primera vez delante de Narciso y entonces se queda hipnotizado. El fotógrafo queda encantado e hipnotizado por cada imagen que logra para sí, pero él debe percibir que está delante de una escritura, de un código de civilización. Su trabajo es revelar la abstracción que sustenta la sensación de realidad producida en la imagen.

La fotografía en su comienzo, vagó entre lo natural y lo sobrenatural. Entre el registro de la mecánica de los movimientos en la naturaleza y el registro de las áureas y espíritus en otra dimensión. Las funciones reveladoras crearon un carácter surreal para el fotógrafo. Él siempre estuvo ligado a lo imprevisible.

El fotógrafo utiliza elementos estéticos para construir imágenes, esos elementos deben estar delante del fotógrafo, en aquello que él fotografía. La presencia es un elemento importante de la fotografía. La ausencia también lo es. Presencia y ausencia de la naturaleza física. La estética de la fotografía está al frente del visor, fuera de la cámara, ajena al fotógrafo , no aparece a través de las manos, como en el dibujo. Lo ajeno, la lejanía, es una angustia en la fotografía, que se enfrenta en el autorretrato y es tratada explícitamente por Mapplethorpe e Nan Goldin.

La imprevisibilidad también es consecuencia de esa lejanía, de ese quehacer fotográfico que no es controlado por las manos como el dibujo y la escritura, sino por aquello que esta al frente de la cámara. La imagen es imprevisible. Esa cualidad, fundamental al fotoperiodismo, yo trato de extenderla a cualquier resultado que envuelva a la fotografía. Ahí aparece una contradicción, un paradojo en el trabajo del fotógrafo; su producción forma parte de un código de signos como son los retratos, paisajes, stilll life; donde la escritura personal contiene elementos de escrituras colectivas, pero cada vez que un fotógrafo produce un signo, él trabaja con el tiempo y su imprevisibilidad. El tiempo es el asunto principal de la modernidad. La finitud, la fragmentación, la Historia, están expresadas en la fotografía, incesantemente. El tiempo es amo del trabajo de todos los fotógrafos y se ríe de sus pretensiones autorales. Mientras en el cine hay un control del tiempo en el montaje, en el movimiento de los actores y en la captura, en la fotografía still, cualquier resultado pertenece en última instancia al Tiempo, a la época, expone una circunstancia. Esa desapropiación, esa lejanía, repito, es la fuente de importancia del fotógrafo en una cultura donde la noción del tiempo es la dimensión, potencia mas importante para la idea de realidad. El único dado incontrolable en el juego.

El fotógrafo es el hombre en contacto con el tiempo, en los fragmentos de segundo del obturador.

La fotografía puede tornarse una estética, no obstante, su fuerza está en la constitución de una escritura, donde los signos no son formados de sentido y ética, como lo son las palabras, sino pura consciencia del tiempo y su imprevisibilidad. Curiosamente, es una consciencia que provoca encantamiento en la psique cada vez que una fotografía es producida, aun cuando delante del conjunto de sus imágenes, el fotógrafo siente la angustia de pertenecer a todo y no poseer nada.

novembro 15, 2015

Fotografia e Pintura

Em determinado período do seu trabalho, as pinturas do artista alemão Gerhard Richter parecem fotografias. Ele leva para a tela a profundidade de foco, a gradação tonal em preto e branco e até o “tremido” da fotografia quando a velocidade lenta e a câmera na mão produzem uma imprecisão.

Warhol e muitos artistas do pensamento pop inclusive no Brasil se interessaram pela fotografia como uma “nova paisagem”. Hoje, ainda mais, imagem se tornou prevalente sobre a paisagem física: a imagem determina nossa idéia de paisagem, cidade e individuo. A relação do olhar com o mundo é mediada por imagens. Richter expõe a ambiguidade entre precisão e imprecisão da fotografia na captaçao do visível. A pintura, “conclusão” do olhar, pensa o visivel e faz a síntese do que se olha e precisa ser enxergado.

Pintura começa em pensamento que através do gesto acumula massa pictórica. A fotografia é uma tradução automática do visível, feita na camera escura, para o bidimensional. É automática. Aquilo que está diante do olhar se transforma em imagem quando o aparelho fotográfico é acionado. Esse aparelho é basicamente a camera escura usada no atelier renascentista para produzir perspectiva na pintura. Quando o filme sensível é inventado, a imagem é liberta do atelier para se tornar autônoma; um duplo do que se vê, capaz de sobreviver a visão, ao momento em que foi visto. A fotografia nasce ligada ao acontecimento, como um irmão siamês de cada momento. Com a fotografia, o momento passa a ter ângulos de onde é visto. Multiplos ângulos. O momento se torna um polvo de muitos braços generosos. Em cada ângulo, um fotografo. Em cada fotografia, uma visita a esse momento, uma recordação, uma descrição. A observação fotográfica se torna a febre do século 20 e substitui todas as tentativas de formulação e descrição da realidade: a fotografia torna tudo inteligível, enquadrando e reduzindo pessoas, multidões, fenômenos, conflitos etc.. dentro da imagem.

Está na hora de lembrar a historia da fotografia. No fim do século 19, Paul Strand escreve um manifesto modernista na revista Camera, editada em Nova Iorque por Stieglitz. Strand propõe aos fotógrafos que procurem uma estética própria da fotografia. Ele procura a nitidez, a geometria e principalmente o detalhe em macro. Algo especifico da fotografia que esteja além do que é visto e que seja encontrado através da câmera, antes de ser imaginado. Segundo o modernista Strand, a imagem deve ser produção da câmera fotografica, sua propriedade. Não mais a tradução da pintura romântica refazendo mitos e cenas literárias no estúdio ou capturando auras e fantasmagorias em reuniões espíritas. O manifesto de Strand leva o fotografo/ artista para as perspectivas produzidas pela indústria. Leva o fotografo para descobrir o olhar da máquina. A imagem paira sobre o encontro entre o inconsciente e a industrialização e cabe ao fotografo revelá-la. A interseçao inteligível, reflexiva, com as maquinas.

Havia uma nova paisagem a ser formulada. A fotografia acelerou o modernismo. Vieram o formalismo de Weston, a documentação de Walker Evans. A aceleração da arte com Man Ray e Duchamp. Aparece o futurismo, todo sobre a aceleração. Lartigue fotografa a aceleração de um carro. Man Ray produz imagens anti riomanticas de nú/ objeto/ máquina. Duchamp faz retratos disfarçado de bandido e de mulher. Usa as maquinas de retrato dos parques de diversão para fazer auto retratos aonde se torna mais indescritível, menos conhecido, mais enigmático. A fotografia torna a identidade e a essência de cada um em clichê produzido em série. Walker Evans concretiza a melancolia e o desespero literário do século 20 nas imagens que faz dos EUA na depressão econômica. A fotografia critica e social da depressão americana, circulando nas revistas, dissipa a idéia burguesa de descrever o artista como alguém desligado da realidade. O fotografo mostra as coisas como elas são: duras, nítidas, sólidas, impessoais, aceleradas, em movimento.

Apesar da inteligência na proposta modernista de Strand, o fotografo não controla a maquina: é a fotografia que vai dominar a natureza, o ser. Ela vai se tornar o mundo. O fotografo se desloca da posiçao de observador do momento para se tornar o criador da paisagem, do momento, do mundo. A fotografia se torna anterior a paisagem na civilização moderna. A fotografia se tornou rápida e fácil, se reproduzindo com voracidade, colada em toda existência até o ponto que começa a substitui-la. E nesse momento de triunfo da imagem, a fotografia aparece como personagem na pintura pop. Os artistas, e só eles, perceberam que a imagem fotográfica havia se libertado do olhar para se apossar do lugar dos vivos. Warhol pinta a Marilyn.. mas ele pinta a imagem da Marilyn, sobre a imagem impressa da Marilyn. Sua tela, sua paisagem, sua coisa, sua matéria.

A estratégia para deslocar a fotografia do lugar de mediaçao entre pensamento e acontecimento começa alí.   A estratégia projeta o fotografo para um outro angulo e lugar. Um lugar subalterno a pintura. A imagem não será mais a irmã siamesa do que existe ou a expressao definitiva do que acontece entre espaço e tempo. A pintura volta a mediar a relação entre olhar, paisagem e pensamento. E a fotografia sai dos departamentos e coleções específicas para ocupar as paredes das instituiçoes de arte em pé de igualdade com todas as obras.

A fotografia deve ser comandada pelos artistas. O segundo passo dos artistas na fotografia foi aplicar a ideia minimalista. A exposição New Topographics, nos anos 70, cria um novo gênero de fotógrafo que abandona a idéia de “momento decisivo”, de observador da aceleração cotidiana, para mditar sobre a paisagem e suas possíveis proximidades com dinâmicas da arte contemporânea. O casal alemão Becher, professores da Academia de Arte de Dusseldorff, aparece nos Estados Unidos pela primeira vez com suas séries disciplinadas e obsessivas de fotografias que catalogam prédios industrias segundo sua especificação produtiva. Uma tipologia de prédios industriais. Lewis Baltz fotografa periferias urbanas em regiões desérticas aonde a paisagem evidencia um mundo feito de forma sem sentido. É uma paisagem inóspita, perigosa ande a natureza humana nõa é mais grandiosa e sim um clichê diminuído. Robert Adams, Joe Deal, Frank Gohlke, Nicholas Nixon, John Schott, Henry Wessell e Stephen Shore completam a lista de fotógrafos dessa exposição que criava um novo gênero, uma cena fotográfica distante do mundo dacomunicação e próximo da arte minimalista.. na fronteira histórica entre arte moderna e contemporânea.. Há um reencontro na paisagem, na Topografia, entre a fotografia e a pesquisa das artes plasticas.

A pesquisada paisagem continua entre os alunos dos Becher na academia de Dusseldoff; Andreas Gurski, os dois Thomas, Ruff e Struth e Candida Hoeffer criam nova torção sobre a imagem e a paisagem; manipulam a paisagem para aproximá-la da idealização. Separam a imagem e do acontecido, do mundo em movimento. A imagem deve ser apenas imagem e um espelho para ideias. Gurski distancia a câmera e enquadra a multidão, manipulando a imagem e criando harmonias utópicas. Sempre com o olhar distante, enquadra a serialidade do “tudo a 1 dolar” nos supermercados. A realidade parece cada vez mais um projeto idealista e absurdo na fotografia próxima da arte.

O terceiro passo dos artistas na fotografia será a encenação. Starlets, garotas que fogem de casa, Gangs de rua. …toda a paisagem contemporânea que era capturada espontaneamente será encenada pelo fotógrafo. A frase de Barthes “ a fotografia é extensão do teatro.. e não da pintura” do livro Camera Clara, vai ressoar. A ausência da tinta, da massa pictórica, do gesto do pintor na tela, vai ficar clara. A relaçao da fotografia com o pictórico é de conflito e impossibilidade. Uma transgressão da natureza de cada meio esta sempre implícita nas aproximações. A transgressão é a pressão para produzir reflexão. Separando imagem e existência ao aplicar doses de artificialidade na cena. A fotografia volta ao atelier do século 19 quando imagens eram compostas e encenadas. Cindy Sherman, Mapplethorpe, Mohammed Borouissa, Rineke Djikstra e Jeff Wall. Nan Goldin mostra a vida sentimental com a sensibilidade camp aonde a dor de viver é melodramática. Tudo exagerado. A pintura disfarçada de fotografia em Richter e a fotografia como pintura refletida na imagem, em Jeff Wall. O melodrama de Nan Goldin. As cenas de Cindy Sherman e Borouissa. Os Gainsborough na praia de Dikstra. Há um aspecto de máscara. A farsa é constante no repertório da arte desde sua aparição no Ocidente. É uma idéia moderna e a arte aparece se dirigindo ao moderno. A fotografia/ extensão do pictórico é assinalada como um sintoma de pós modernismo. Seria o caso de compreendermos que estamos diante de um desdobramento do moderno. … A fotografia nasce dentro da câmera escura, um instrumento de pintores. Se desgarra para inventar a sociedade deimagem.. Os pintores vão atrás e a trazem de volta para a tela, para o campo da arte, territorio da liberdade individual, da reflexão, da igualdade entre as diferenças, do espirito moderno.

novembro 15, 2015

As Águias da Morte de Metal.

Eu assistia a entrevista de um rapaz que estava presente no Bataclan.. ele mostrava a camiseta com manchas de sangue.. O rapaz dizia que jogaria fora a camiseta. Não seria um troféu cool de um show de rock onde algo “bárbaro” acontecera. Ele estava confuso, um pouco em choque.. “eu ví o que uma bala pode fazer em um corpo”. Ele conta como foi salvo por um homem de camisa vermelha que o arrastou para fora do local do massacre. A câmera da entrevista enquadra o braço do rapaz aonde ele mandou tatuar duas mãos atadas por correntes, amaneira dos desenhos dos anos 30 e a frase: Partners in Crime.

O rapaz não pode reagir a violência no Bataclan.. Ele e uma plateia aonde centenas de tatuagens flertavam com o crime e camisetas com caveiras homenageavam a morte, foram subjugados, perdendo a harmonia que cultivaram esmeradamente com a destruição. A violência é um traço da vanguarda surrealista, dadaísta, punk. Parte da fina flor da cultura ocidental celebrava a vida da maneira mais avançada possível no Bataclan e incluía, esteticamente, a morte e o crime nas imagens. Um show de rock essa noite. Um filme de gangster amanhã a tarde. A resposta da cultura as platitudes esperançosas do século 20, aos apelos ecológicos, as consciências racionalizadas, as espiritualidades duvidosas foi a morte, controlada pela estética. “Parceiros no crime”.. O dono da tatuagem não é criminoso: o crime alí é a resposta sensual a uma moral ilusória. A resposta lúcida a moral alienada da vida. A plateia no Bataclan era lúcida. A consciência procura a lucidez mesmo quando escolhe idéias sem nenhuma experiência com a pratica dessas idéias. O inocente se tatua com o crime. Os vivos brandem a caveira. Ora.. na prática os criminosos se pretendem inocentes e os mortos querem voltar ao mundo dos vivos.

O rapaz diz que vai se livrar da camiseta.. o sangue é de um desconhecido. Ele faz questão de dizer que assistiu o que as balas fazem a um corpo. Ele quer mandar uma mensagem: agora sei o que são balas, tiros e mortes. Viu uma expressão mecânica no rosto de um atirador. Agora sabe como alguém morre a tiros. Ele foi ao Bataclan para assistir Eagles of Death Metal, banda que faz paródia da violência sensual no Rock. O rapaz vai ter um problema agora: sobreviver em uma cultura que não vai lhe parecer tão lúcida.  O que ele vai fazer sábado a tarde, no lugar de assistir um filme de gangsters?  Aonde a plateia que escapou viva do Bataclan vai encontrar lucidez? No Bataclan, sexta a noite, começou mais uma transformaçao radical na nossa sensibilidade.